quinta-feira, 29 de maio de 2008
Para que a história nunca seja esquecida
Duzentas prisões. Penas que ultrapassaram, no total, mais de 200 anos. Cerca de trezentos dias de tortura de sono. Na frieza dos números, retratada, está uma das faces da violenta repressão que se abateu sobre o povo do Couço, entre o ano de 1933 e a alvorada libertadora de Abril. Comportam, em si, histórias de sofrimento e dor.
Mas também de coragem. Coragem sem limites, de entrega, firmeza e lealdade. As motivações para tamanha dedicação e heroísmo são conhecidas. Só uma grande causa, como a da luta por uma sociedade sem exploradores nem explorados, tem esse poder mobilizador. Foram esses ideais de liberdade e justiça social, sempre presentes, que marcaram o tempo e o ritmo das lutas. Como presente esteve também, em todos os momentos, dinamizando-as e dirigindo-as, o Partido Comunista Português.
Afirmando a sua dignidade, na primeira linha de todas as acções de luta, lá estiveram, onde era necessário, as mulheres. Mulheres que foram um exemplo da resistência. Também elas foram torturadas. E sabiam, sobretudo, como dizia um dos painéis presentes na exposição, que estas eram também lutas pela sua emancipação.
"As mulheres do Couço - recordou Maria Rosa Viseu, ela própria também presa e torturada, na intervenção que proferiu no acto de lançamento da primeira pedra ao monumento de homenagem ao povo de Couço - nunca pouparam esforços. Tiveram sempre ao lado dos homens na luta; deram o seu contributo pela conquista de direitos; lutaram nas praças de jorna, nas lutas das oito horas, nas lutas para a formação de um sindicato que nos defendesse, nas lutas contra as burlas eleitorais, nas lutas das malditas prisões, e, nas horas amargas da tortura, estiveram sempre, sempre ao lado dos homens, seus companheiros".
O camarada João Camilo, que conheceu as masmorras fascistas por nove vezes, num total de 14 anos de prisão, deu-nos um testemunho sobre o comportamento dos comunistas na prisão. Fala por si: estava-se em 1958, na sequência da vaga de prisões que atirou para as cadeias mais de uma centena de homens do Couço e cerca de meia centena de Montemor-o-Novo. Depois de barbaramente torturado, Farrica - assim se chamava o militante comunista que protagonizou esta história -, volta à cela, com o corpo amassado, todo ensanguentado. Pede para falar com João Camilo, a quem quer transmitir uma mensagem. "Se continuarem a bater-me assim - afirmou - eu morro. Mas informa o Partido que nem sequer conseguiram fazer-me despir o casaco
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