domingo, 17 de janeiro de 2010

76º Aniversário da Revolta Operária 18 de Janeiro de 1934

A data de 18 de Janeiro de 1934 ficará para sempre ligada à história dos vidreiros, em Portugal. Nesse longínquo dia, um punhado de homens, na maioria operários vidreiros, de armas na mão, lutaram contra um regime que viria a amordaçar o Povo Português durante 48 longos anos.
Para tentar perceber minimamente o que levou esses homens a seguir esse caminho, é preciso ver os antecedentes sociais, económicos e políticos que se viviam em Portugal e, em particular, na Marinha Grande, naquela época.
Com o derrube da Monarquia, em 5 de Outubro de 1910, instalou-se em Portugal uma República, que demorou muito a consolidar-se o que levou ao golpe de Estado de 1926.
Em 1930, uma profunda crise social atingiu a Marinha Grande.
“Década, após década, a história repete-se nesta terra, será sina”!...
Este foi também o ano em que a ditadura, saída do golpe de Estado de 1926, começou a estabilizar e a impor a sua lei.
Os anos 30 e 31 foram particularmente difíceis para quem trabalhava na indústria vidreira. Com o apagar dos fornos, o trabalho escasseava, em consequência a fome atormentava os vidreiros e as suas famílias

Na época, e depois da reorganização do Partido feita por Bento Gonçalves, (Secretário Geral do Partido, até à sua prisão e morte no Tarrafal), há um rápido desenvolvimento do partido com a criação de inúmeras células e comités operários, um pouco à imagem dos comités Bolcheviques.
Entre 9 de Março e 24 de Novembro de 1932 teve lugar a maior e mais longa greve dos operários vidreiros, a greve dos Roldões, como ficou conhecida. Foi um marco histórico do operariado vidreiro. Muitas outras se lhe seguiriam.
O ano de 1933 trouxe a Portugal uma nova conjuntura política: O Estado Novo.
Em 23 de Setembro de 1933, foi o fim dos sindicatos livres e democráticos. Salazar, tendo como base a “Carta del Lavoro” de Benito Mussolini, publicou o decreto 23.048, instituindo o Estatuto do Trabalho Nacional, obrigando os sindicatos democráticos a ser encerrados.
Todos os trabalhadores ficavam obrigados a filiar-se nos sindicatos corporativos.
A direcção do sindicato vidreiro, avisada a tempo, fugiu para Espanha, no início de Novembro, para não ser presa.
No final de Novembro de 1933, a organização de jovens aprendizes da fábrica do Marquês, em resultado de uma greve organizada pela Juventude Comunista, foi presa e encerrada nas masmorras do Governo Civil de Leiria.
O Movimento Insurreccional de 18 de Janeiro de 1934, começou por ser uma tentativa Nacional de luta contra o Estado Novo. Por motivos diversos, e aqui não há consenso entre os historiadores, políticos e todos aqueles que de qualquer forma estudam esta questão, o que se sabe é que houve algumas lutas a nível Nacional, sem grande significado.

Na Marinha Grande, esta luta tomou proporções de Insurreição Armada, isto deveu-se a alguns factores fundamentais. A classe operária vidreira estava bem organizada, tinha sido bem “temperada” ao longo dos anos, nas diversas lutas sociais e económicas.
A fome, a miséria e a falta de liberdade, são as condições fundamentais para o início de qualquer revolução, em qualquer parte do Mundo.
Embora nem todos os participantes no movimento do 18 de Janeiro fossem militantes do Partido Comunista Português, é verdade que o movimento foi organizado e dirigido pelo Partido. Por muitos documentos da época este facto é indesmentível. Para a História ficou o fracasso da revolta, mas durante algumas horas, na Marinha Grande, o poder esteve nas mãos dos operários vidreiros.
As forças repressivas conseguiram dominar a insurreição, foram feitas dezenas de prisões, a maioria dos presos foram deportados para o campo de concentração do Tarrafal.
Nas comemorações do 18 de Janeiro de 1934 realizadas em 2008, o Município da Marinha Grande, fez a germinação com o Município do Tarrafal, Cabo Verde, como homenagem aos dois marinhenses que foram assassinados no campo de concentração.

Dos 152 antifascistas que foram inaugurar o Campo de Morte Lenta, assim ficou conhecido, 57 eram membros do movimento do 18 de Janeiro.
António Guerra e Augusto Costa foram dois, dos trinta e dois antifascistas assassinados no Tarrafal. Para além destes dois, foram também assassinados Manuel Carvalho, que faleceu no Hospital de Leiria e Francisco Cruz que faleceu na prisão de Angra do Heroísmo.

A sua coragem, determinação e generosidade permaneceram na memória colectiva desta terra.
Este legado conquistou para a causa da liberdade e da democracia imensas gerações de jovens marinhenses, onde com imenso orgulho me incluo, sendo eu um filho adoptivo desta terra.

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